Palavras do Rabino Pablo Berman

30 de agosto de 2024

Simples, é só REE

REÊ, veja, o texto nos exorta, o que vemos aí na nossa frente? O que queremos ver? O que buscamos? O que desejamos? O texto nos mostra a bênção e a maldição e nos diz com ímpeto: veja, porque está aí diante de você. As duas coisas. Parece que podemos escolher. E de fato podemos escolher. É uma escolha. A bênção e a maldição. Deus nos dá a opção. Diz isso. Aní noten lechá. Eu te dou, Ele diz. O que fazemos com isso? No final, era só escolher. Tão simples quanto isso. E às vezes nem isso fazemos. Não sabemos escolher. Temos diante de nós a possibilidade de escolher entre a bênção e a maldição, e escolhemos o quê? Bingooo… a maldição. Será possível sermos tão bobos? Mas, se poderíamos ter escolhido a bênção, a santidade, a luz, e não, nós, humanos teimosos, escolhemos a escuridão, a palavra errada, a pessoa errada, o trabalho errado. É apenas uma questão de saber escolher.
O problema é que escolher não é fácil. A liberdade de poder escolher nos faz livres e, ao mesmo tempo, nos confunde. É mais fácil que nos digam o que devemos escolher. É mais fácil que nos mostrem o caminho e nos digam: caminhe por aqui e serás feliz. Porque para ter a capacidade de escolher, devemos primeiro pensar. E pensar não é fácil. Na verdade, nada é fácil. E está bem que não seja fácil. Quando, na vida, as coisas chegam servidas em bandeja, não serve. Não está certo.
Por isso o texto sagrado nos exorta, antes de escolher, a OLHAR. Olhar é pensar, olhar é olhar para os dois lados antes de atravessar a rua. Olhar é não tomar decisões precipitadas. Olhar é pedir ajuda quando precisamos. REÊ. Veja. Passamos a vida olhando sem ver. Sem prestar atenção. Porque REÊ, na língua maravilhosa e sagrada que é o hebraico, vem do verbo LIRHOT, que por sua vez vem do sentido de entender, pensar, pesar as coisas. Reê significa: quando a ficha cai. Clin, clin.
Por isso o gênio que escreveu o livro de Kohelet diz: Echacham einav berosho, vehaksil vachoshech olech. O sábio tem os olhos na cabeça, no cérebro, o tolo caminha na escuridão, porque tem os olhos, sabem onde? Não vou dizer, porque vocês já sabem.
O primeiro conhecimento do ser humano é descrito como a abertura dos olhos: "Porque Deus sabe que no dia em que comerem da árvore do conhecimento, se abrirão os vossos olhos, e sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal... Então se abriram os olhos de ambos, e souberam que estavam nus; costuraram folhas de figueira e fizeram para si aventais", nos relata o Gênesis.
O verbo "ver" em si também é utilizado para a percepção intelectual: compreensão, conhecimento, avaliação correta, pensamento. Por exemplo: "Por que jejuamos e não viste?", reclama o povo de Israel a Deus, "afligimos nossas almas e não soubeste?", nos conta Isaías.
Então, agora, voltemos ao começo. REÊ. Veja, nos exorta Deus, o texto da Torá, nossa tradição sábia. Veja. Pense. Antes de atravessar a rua. Veja. Pense. Meça. Pese as coisas. A vida sempre vai nos colocar diante de dilemas. E vamos ter que escolher. E nem sempre o que vamos escolher será a melhor das opções. Mas, se pensarmos, pelo menos saberemos das consequências. Quando agimos sem VER, sem olhar, sem medir, então cuidado, porque aí está esperando a maldição, e a escuridão.
Escolhamos a bênção, pessoal, não sejamos tolos.
A brachá chega se seguimos pelo caminho do bem, da Mitzvá, da tradição, da palavra sábia, do bom conselho, de um bom abraço, da luz.
A klalá, se não seguimos pelo caminho da Mitzvá, de palavras insensatas, de ouvidos surdos, de conselhos confusos, de abraços falsos, de humildade nula.
REÊ, veja. Você. Aí, olhe bem o que está diante de você, e antes de seguir qualquer caminho, pense duas vezes. E depois sim, faça.
Veja, para ver a luz. Ela sempre está iluminando. O problema somos nós que não a vemos.