Palavras do Rabino Pablo Berman

05 de julho de 2024

Parashat Korach, Rosh Chodesh Tamuz!

A lua pode ser tomada a colheradas
ou como uma cápsula a cada duas horas.
É boa como hipnótico e sedativo
e também alivia
aqueles que se intoxicaram de filosofia.
Um pedaço de lua no bolso
é o melhor amuleto que a pata de coelho:
serve para encontrar quem se ama,
para ser rico sem que ninguém saiba
e para afastar médicos e clínicas.
Pode ser dado de sobremesa às crianças
quando não conseguem dormir,
e algumas gotas de lua nos olhos dos idosos
ajudam a viver bem.
Coloque uma folha terna de lua
debaixo do seu travesseiro
e você verá o que quiser ver.
Sempre carregue um frasquinho do ar da lua
para quando estiver sufocando,
e dê a chave da lua
aos presos e aos desencantados.
Para os condenados à morte
e para os condenados à vida
não há melhor estimulante do que a lua
em doses precisas e controladas.
Um pouco de ironia a que o poeta mexicano Jaime Sabines usa para revisar todos os mitos que cercam a lua, sem levá-los muito a sério, claro. 
A ironia da Lua, os segredos, os mistérios. A Lua para nos, é tudo. O judaísmo, o povo, Israel, e a Lua. E tudo o que cerca a lua e seus mistérios se ligam conosco.
Esta noite de Shabat último dia do mês de Sivan, e amanhã, primeiro dia do mês de Tamuz.  Um momento cheio de significado em nosso calendário judaico. Em vez de focarmos na porção semanal da Torá, quero compartilhar com vocês a beleza e o simbolismo que a lua nova nos oferece na tradição judaica. Para muitos poetas se liga com mistérios de amor e solidão, de frio. Mas no judaísmo é bem diferente. 
Quando observamos a lua nova no céu, ela nos lembra que cada mês traz consigo a oportunidade de renovação. Assim como a lua passa por suas fases, nós também atravessamos momentos de escuridão e luz em nossas vidas. A lua nova nos convida a refletir sobre nossos próprios ciclos, a deixar para trás o que não nos serve mais e a abraçar o novo com esperança e fé. O que podemos aprender deste ciclo lunar? Podemos aprender a encontrar beleza nos novos começos, a cultivar paciência enquanto esperamos que a luz volte a brilhar e a lembrar que cada fase, por mais escura que seja, nos aproxima de um novo amanhecer.
Convido cada um de vocês a pensar em qual aspecto de suas vidas precisa de renovação. Seja em nossos relacionamentos, nossos sonhos ou nossa espiritualidade, a lua nova nos oferece a oportunidade de começar de novo e crescer.
Mas, demos uma olhada a Jorge Luis Borges, a ver o que ele opina da Lua. 
Há tanta solidão nesse ouro. 
A lua das noites 
não é a lua que viu o primeiro Adão. 
Os longos séculos da vigília humana a encheram de antigas lágrimas. 
Olhe para ela. 
É o seu espelho.
Ao longo dos tempos, a lua se tornou uma espécie de símbolo espiritual, nos diz Borges. Neste poema, faz-se referência à lua como reflexo das tragédias humanas. Somos seu espelho. E nos povo judeu sabemos bem disso.
Que este mês de Tamuz nos inspire a ser conscientes dos ciclos da vida, a valorizar cada momento de luz e a confiar que sempre haverá um novo começo nos aguardando.