Palavras do Rabino Pablo Berman

13 de setembro de 2024

Ki Tetse, ou o preço da coragem

"Quando saíres à guerra contra teus inimigos." O texto é direto, triste, realista. Há guerras e há inimigos. Sempre, não importa a época ou o momento da nossa história. Sempre, sempre teremos que sair para a guerra. Os inimigos estarão lá, esperando. Às vezes, nem esperam. Eles vêm nos procurar. Mesmo que o texto diga "quando saíres", Israel sempre se defendeu. De fato, não é por acaso que o exército de Israel se chama Tzahal. O Exército de Defesa de Israel. Não de ataque. Então, saímos para nos defender.
Hoje, a realidade do povo judeu, graças à existência de um Estado judeu, é que podemos nos defender. Mas nem sempre foi assim. Já passamos por massacres onde não podíamos nos defender, e a destruição era completa. Há um ano, houve um massacre. Um pogrom. Como na Rússia, como na Polônia. Como em Odessa, como em Kishinev. E tantos outros. Mas desta vez, apesar da tragédia, o povo judeu pôde se defender.
E aqui está a diferença entre ler esse texto hoje e há alguns séculos: temos a sorte e o milagre de viver em um momento da história em que o povo judeu é soberano em sua própria terra, e com coragem e convicção, o povo de Israel pode "sair para a guerra". Com jovens soldados e soldadas que oferecem o que têm de mais precioso para defender aquele pedaço de terra e a todos nós. O preço de sair para a guerra é altíssimo, é dramático, é absolutamente desolador. Não tenho palavras para descrever a dor que as famílias de cada herói caído devem sentir por nos defender.
"Quando saíres à guerra", nos adverte o texto. Não nos obriga a sair. É apenas uma possibilidade. É apenas um "quando". Infelizmente, temos que sair, porque o inimigo é um demônio que espreita em cada esquina. E aos demônios, é preciso destruí-los. Não há opção. Não há diálogo. É preciso muita coragem para acabar com os demônios, e ao povo judeu coube essa tarefa. Como outras vezes. Como tantas outras vezes.
Logo chegarão os dias de voltar da guerra e recomeçar uma vida e uma terra diferentes. Talvez, quando a primavera chegar…