Palavras do Rabino Pablo Berman

18 de outubro de 2024

Alegria

Alegria. Sucot é alegria. É a única festa que se chama alegria. Chag. Festa. Nem Pessach, nem Shavuot, nenhuma. Apesar de dizermos chag hapesach, chag hashavuot, a verdade é que só Sucot é alegria. Sucot é alegria. "Vesamachta vechaguecha" – E te alegrarás na tua festa. Você, seu filho, sua filha, sua família, os que habitam em sua casa, as pessoas que te ajudam, que trabalham para você, o levita que está por aí, o estrangeiro que não tem para onde ir, o órfão que não tem com quem se alegrar, porque não tem pai nem mãe. A viúva que ficou sozinha, que vive no seu bairro. E então – "ve aita ach sameach" – você estará apenas alegre, absolutamente alegre. A palavra "ACH" aparece algumas vezes em hebraico antes de determinadas palavras para reforçá-las, para nos dizer: "isso aqui é importante, preste atenção." Ach Sameach. Apenas estarás alegre, completamente alegre. Alegria como uma mitzvá. Que mitzvá maravilhosa é estar alegre! Porque sempre pensamos que mitzvá é não comer presunto, acender as velas de Shabat, comer matsá, ou jejuar em Yom Kipur. E então chega Sucot, e o texto da Torá nos exorta a alcançar um estado de alegria completa, porque é uma mitzvá. Deus nos diz: "Amigos, quero que vocês estejam alegres em Sucot. Ach Sameach! Nada mais. Alegria para todos. Para todos de verdade. Porque se somos um povo e parte do povo não pode estar alegre, então essa alegria não vale. Alegria. Alegria em família, com aqueles que têm sua família, com aqueles que não a têm, todos alegres.
Mas como podemos estar alegres quando as notícias não são boas? Como estar alegres, cantar e dançar quando outros, do povo, estão sofrendo? Isso não pode ser uma mitzvá. Faz um ano que a alegria não é completa. São alegrias pela metade. O judaísmo é agridoce. Como diz Nomi Shemer, "Al ha-dvash ve-al ha-oketz," pela doçura e pelo amargo, pelo mel e pelo espinho. É assim, não temos como escapar disso. A vida é agridoce. E então, como cumprimos a mitzvá? Como podemos estar completamente alegres se tantas pessoas ainda estão reféns em Gaza, sofrendo? Suas famílias sofrendo. Os soldados que morreram até agora, 745. Setecentas e quarenta e cinco famílias, esposas, filhos, que não podem cumprir a mitzvá, mesmo que tentemos obrigá-los, dizendo que a vida é maravilhosa, que a vida continua, e que o judaísmo nos exige: alegria, alegria. Mas não, não é tão simples. Nada é simples. Alegria em meio à tristeza. Como fazemos isso?
Eu me pergunto o tempo todo. E não tenho uma resposta. Mas talvez, amigos, a resposta esteja aí, no texto. A Torá sabe que a vida é agridoce. Ninguém nos prometeu um jardim de rosas. O povo de Israel saiu do Egito, da escravidão para a liberdade, e a primeira coisa que Moisés organizou foi um exército. Era necessário lutar, pessoal, nunca nos foi prometido que a vida do povo judeu seria um passeio em Miami. Nunca. Só nos foi prometida uma terra, e nos entregaram duas pedras com 10 mandamentos. Nada mais. E aqui estamos, 3500 anos depois, lutando pela mesma terra, tentando entender como podemos estar alegres nesta festa de Sucot.
Então, como encontramos a alegria? Como podemos alcançá-la? Sucot é a festa, escrita em letras maiúsculas, que representa não só a alegria, mas também a reunião do povo de Israel sob a sucá. Todos juntos. Ninguém pode ficar de fora. Todos sob o mesmo teto. O que diz o texto? Você, seu filho, sua filha, as pessoas que trabalham com você, aquele que não tem para onde ir, que está sozinho, o levita que chegou à sua casa, a mulher que perdeu o marido, e a criança que já não tem sua mãe e seu pai. Todos estarão juntos buscando a alegria. Porque não há mitzvá de alegria na solidão. A alegria só será alcançada quando a reunião do povo sob a sucá me convidar a sorrir, mesmo quando a dor possa parecer mais forte que a alegria e a esperança, lembrando que sempre há motivos para continuar vivendo.
Em memória dos cinco soldados que caíram ontem no Líbano, em um dia de Sucot, em um dia de alegria, defendendo todo Israel: 
Major Ofek Bachar
Capitão Elad Siman Tov
Primeiro-Sargento Elyashiv Eitan Wieder
Primeiro-Sargento Yaakov Hillel
Primeiro-Sargento Yehudah Dror Yahalom.